A linguagem das formas
Por: Celso Negrão - Ação Design (29/08/2018)
Além das cores, as formas possuem sua linguagem também. Aliás, o ser humano tem um anseio enorme de dar significado a tudo, por isto, tudo tem significado para ele, seja concreto ou abstrato. Muitas vezes nas ciências humanas nos apoiamos em significados abstratos, estes podem ser regionais ou universais. Desde os primórdios da humanidade, o ser humano procura técnicas e formas de se expressar e representar o mundo no qual vive. Através de um desenho rupestre, pintura, escrita, fotografia, cinema são modos diferentes de representar um evento, uma ideia da realidade que está inserido. Aliás, é preciso informar aqui que o cérebro não distingue a realidade da fantasia, por isto nos envolvemos muito com estas representações, nos trazem memórias ou imaginações incríveis, mas isto é assunto para outra conversa. Muitas destas representações são realizadas no mundo bidimensional (objetos com duas dimensões, comprimento e largura), ou seja, este universo é uma criação humana, a realidade é tridimensional (objetos com três dimensões, comprimento, largura e altura). O olhar que dispensamos a um objeto pode ser distorcido dependendo do ângulo de visão, por exemplo, um cone quando é observado apenas pela sua base pode parecer apenas um círculo. Um desenho bidimensional é composto de três grupos: Conceituais (ponto, linha e plano), Visuais (formato, tamanho, cor e textura), Relacionais (posição e direção no espaço e peso). Os elementos conceituais não existem fisicamente, mas são percebidos pelo ser humano, os visuais são vistos, como indica o nome, e dão aparência ao desenho, os relacionais traduzem a estrutura de relacionamento entre os elementos presentes na composição da obra visual. Mas como percebemos a forma? Ela é percebida pelos contrates existentes entre os elementos que compõem uma obra. Os contrates ocorrem pelos elementos: Linha (contorno ou limite que o objeto possui), muito usado em desenho dos quadrinhos representados com o nanquim. Outro elemento é o peso do objeto representado, isto é, uma percepção da massa do objeto, uma imagem em preto é mais pesada do que uma em branco, ou o vermelho é mais pesado do que o amarelo. Outro elemento é o tamanho, um frasco mais alto, pode conter o mesmo volume de um mais baixo, mas na prateleira a pessoa ao olhar a face frontal do frasco terá a sensação de que o mais alto, mais esguio é maior. Os especialistas em embalagem exploram muito este tipo de percepção visual nas gôndolas de supermercado. A textura é um elemento que se compõem do real e do representado, por exemplo, uma lata de alumínio é lisa, passa a sensação de fria, ou quente, pois associamos muito à realidade, os refrigerantes e cervejas são vendidos, também, em latas de alumínio para poderem gelar mais rápido, ou as panelas nas quais cozinhamos nossos alimentos que também esquentam mais rápido os alimentos que preparamos ou aquecemos. Aqui poucas pessoas pensam no conceito de alta condutividade térmica do alumínio, nós apenas percebemos que isto ocorre rapidamente e é isto que desejamos. Mas uma lata de alumínio pode ter uma textura, como a da Heineken que tem alguns pontos em relevo para se diferenciar da concorrência, ou seja, o conhecimento desta linguagem serviu para diferenciar a embalagem em lata de alumínio dos concorrentes. A posição espacial tem significado, um objeto na vertical parece ser mais alto do que um objeto na horizontal. A percepção do objeto na horizontal sempre nos dá a sensação de que elas estão em estado de repouso, assim como a linha no horizonte no oceano, isto nos acalma, parece que vamos relaxar numa cama. Enquanto a imagem na vertical nos remete a algo em ascensão, uma montanha, um prédio, uma torre, isto nos remete à ação, ao crescimento, ao céu... O valor tonal remete à cor, assunto que tratamos nas duas últimas colunas. Mas os objetos não aparecem isolados é preciso considerar o ambiente onde ele está inserido. A isto chamamos nas artes visuais de composição. A experiência visual é dinâmica, pois não percebemos um objeto isoladamente, perceber uma imagem e um objeto implica em determinar uma posição no espaço, uma ordem de grandeza e um valor tonal. Tudo é considerado por comparação. O alto é alto quando o baixo está ao lado, o claro o é, quando há algo mais escuro na composição. Mas para isto serve para uma pessoa ou negócio? Bem se as formas têm linguagem elas afetam positiva ou negativamente a percepção humana. Assim, uma linha, contorno, forma de um objeto, mas retilínea é mais masculina, enquanto formas mais curvas ou arredondadas são mais femininas. Se não acredita, veja as formas dos perfumes femininos e dos masculinos, vejas as cores deles e perceberá que as mais claras e suaves são femininas, observe o Glamour do Boticário, enquanto as masculinas são mais escuras, azuis marinho, preto, marrom escuro, Malbec do boticário, segue esta linha. Isto são exemplos, pois sempre é possível fazer algo fora da caixa e mudar o padrão e correr os riscos na inovação dar certo ou não. Carpe Diem e converse com as formas!